EXPLICATUDO

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Abordagens Teóricas sobre o Envelhecimento

Para além das metodologias atrás apontadas, que servem como factor de medida da idade psicológica, com as insuficiências que reconhecemos, existem abordagens teóricas que incluem em si outras metodologias, que pretendem delinear modelos de análise que alcancem para além da medida relacional idade psicológica / idade cronológica e se constituam como teorias processuais gerais, independentemente do enclausuramento meticular.

A primeira abordagem teórica que iremos desenvolver à frente chama-se de experimental e não estuda o envelhecimento em si, mas utiliza-o a fim de confirmar modelos de funcionamento ( especialmente cognitivos ) gerais. Por outras palavras, faz inserir o fenómeno do envelhecimento / degenerescência na dinâmica do processo cognitivo. De recordar que uma parte grande da psicologia e da própria epistemologia psicológica se baseia actualmente em processos evolutivos ( do animal para a criança e desta para o homem adulto, etc. ).

A segunda abordagem é qualificada como desenvolvimentista e diferencial. Estuda o envelhecimento como processo em si mas integrado no desenvolvimento geral do indivíduo e não apenas no processo cognitivo.

A terceira abordagem é qualificada como genética. Ela estuda o desenvolvimento do processo de envelhecimento comparando-o com o desenvolvimento da criança.

1- A Abordagem Teórica Experimental

Este tipo de abordagem teórica é comparativa, ou seja, regula - se pela recolha e análise de dados obtidos em extractos diferentes de amostras de indivíduos. A idade cronológica, sendo um factor de alguma forma determinante de diferenciação entre grupos estudados por si só não se constitui como elemento absoluto. Conforme temos vindo a ver ao longo deste trabalho existem diferenciações entre indivíduos que ultrapassam a medida cronológica e que, para dados aspectos de análise, são até mais importantes que essa mesma medida cronológica.

Alguns indivíduos envelhecem mais do que outros, tanto nos costumazes grupos mais novos ou mais velhos ( cronologicamente ) e os resultados obtidos com a utilização das medidas metodológicas atrás referidas podem sair falseados por este factor.

Daí que neste campo se procurem obter factores suplementares de aferição que, de alguma forma, reforçam o delineamento e caracterização dos grupos em análise comparativa.

O SEXO: As mulheres têm uma esperança de vida superior à dos homens pelo que será de entender que uma mulher de 65 anos não tem a mesma idade psicológica que um homem com a mesma idade cronológica, o que arreda desde logo a conveniência de se não fazerem comparações sem ter em consideração este factor.

Por outro lado, em termos demográficos, a percentagem de mulheres é superior à percentagem de homens, daí que se tenha igualmente de levar em conta este factor.

O NÍVEL DE ESCOLARIDADE: Na sua maior parte os testes psicológicos estão relacionados com o nível de escolaridade, contudo os níveis de escolaridade têm-se prolongado ao longo dos anos de país para país.

Se não se tiver este factor em conta arriscamo-nos a interpretar como evolução de conhecimentos ( unicamente ) pela idade aquilo que foi obtido através da escolaridade ( do seu aumento em termos quantitativos e em termos qualitativos ).

O ESTADO DE SAÚDE: Muitos investigadores baseiam-se num modelo que assimila implicitamente o envelhecimento a uma diminuição funcional geral. A exigência deste método, como componente metodológico do processo de abordagem teórica experimental requer que as amostras sejam recolhidas junto de indivíduos que não tenham problemas de saúde, que não tomem medicamentos ( nomeadamente os que interferem com o desempenho intelectual ) e que sejam autónomos, isto é, que não estejam internados em estabelecimentos de saúde ou outras instituições similares.

2-A Abordagem Teórica Diferencial e Desenvolvimentista

Enquanto quer a anteriormente vista abordagem experimental postula que o envelhecimento é um fenómeno homogéneo, ou seja, parte do pressuposto que, para os seus graus de exigência os resultados são comparáveis com grau de fiabilidade suficiente, a abordagem diferencial e desenvolvimentista procura ultrapassar esta em termos qualitativos jogando mãos de factores de exigência variáveis, ou seja, postula a multiplicidade como ponto de partida na análise.

Segundo este tipo de abordagem todos os indivíduos sujeitos a análise são diferentes entre si até que se prove o contrário, ou seja, cada caso é um caso, que pode ser assemelhado a unificado a outros casos segundo aspectos bem específicos e suficientemente estudados para arredar qualquer possibilidade de disparidade.

Daí que se socorra, esta abordagem, dos elementos metodológicos recolhidos na abordagem experimental, embora os não considere desde logo suficientes. Mas não se trata apenas de uma questão de perspectiva: ver de cima para baixo ou de baixo para cima, sumariamente.

A diferenciação entre os diversos graus de heterogeneidade repara também que a diferenciação entre indivíduos num mesmo grupo aumenta com a idade, ou seja, que existem no processo de vida humana dois períodos de crescimento de heterogeneidade ( especificidade individual ) e que estes se centram na infância / adolescência e na velhice, ficando pelo meio um campo relativamente extenso de estabilização de especificidades que atravessa toda a idade adulta.

3 - A Abordagem Genética

A abordagem genética colhe os seus modelos nas teorias do desenvolvimento psicológico da criança. Em psicologia o termo " genética " refere-se à génese, ao passo que em biologia ele se refere ao gene. A psicologia genética estuda a génese dos comportamentos da criança e do adolescente. Ela é considerada actualmente por muitos autores como uma das abordagens da psicologia do desenvolvimento.

Um dos seus conceitos chave é o de fase. A ideia central é que o desenvolvimento da criança se realiza segundo uma sucessão de estádios ou fases. Desta forma esses estádios ou fases serão ordenados no tempo, e a pessoa, segundo esta concepção teórica, não pode ultrapassar um estádio ou fase.

As idades de passagem de uma fase a outra não são rígidas, em termos cronológicos, mas sim estatísticas. Assim, para um dos mais conhecidos destes modelos, o de Piaget, a passagem da fase pré - operatória para a fase simbólica concreta é observada entre os 6 – 7 anos na grande maioria das crianças.

Esta fase simbólica é considerada como fase essencial para o ordenamento da escrita, por exemplo, para além de outros ordenamentos do processo cognitivo.

Aplicado ao envelhecimento, o processo genético consiste em utilizar as fases do desenvolvimento para descrever o funcionamento psicológico dos idosos. Se o investigador se propuser, por exemplo, estudar o pensamento formal ( última fase do desenvolvimento intelectual segundo Piaget ) na pessoa idosa, deve antes de mais escolher uma prova ou teste para a avaliar.

Se a prova escolhida só for dominada aos 14 anos, poderá determinar o nível escolar necessário para o domínio da prova, por exemplo, o 9º ano actual. Este nível de estudos representará o critério de amostragem para seleccionar os sujeitos idosos.

Contudo haverá que ter em conta factores de ponderação: testes efectuados em grupos de idosos por Krauss em 1990 seguindo uma abordagem experimental atrás descrita chegaram à conclusão, por exemplo, que oito anos de estudo numa pessoa idosa correspondem a 14 anos de estudo actuais.

Os factores de ponderação, chamados por Krauss de perequações, são de diversas ordens, mas de uma forma geral centram-se no nível de escolaridade dos sujeitos estudados. Ora, no caso dos idosos, e de qualquer indivíduo em geral, a capacidade genética não se esgota na escolaridade, pelo que restam sempre franjas que não são levadas em conta para estabelecimento dos critérios de selecção e de análise.

De qualquer forma fica sempre, neste tipo de abordagem teórica, um maior refinamento dos critérios de avaliação, do que aquele que é conseguido quer nas metodologias atrás expostas, quer noutros tipos de abordagens. De afastar contudo a ideia de que o processo de envelhecimento seja uma involução, ou seja, que a capacidade psíquica do idoso regresse sobre si mesma em direcção à capacidade infanto / juvenil.

A abordagem genética coloca também a questão da diferença de saberes ( conhecimentos ) alicerçando a análise no plano qualitativo e não no plano meramente quantitativo. Ou seja, um idoso não sabe menos, com a idade: sabe diferente.



18/04/2008
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