A dialéctica da razão pura.
A dialéctica da razão pura.
1.- Lógica Dialéctica Transcendental:
É uma crítica da aparência dialéctica, enquanto crítica do entendimento e da razão, para desmascarar a falsa aparência das presunções e reduzir as suas pretensões graças aos princípios transcendentais, reduzindo estas pretensões ( de descoberta e extensão) à simples acção de julgar o entendimento puro e acautelá-lo de ilusões.
A aparência, contudo, em Kant tem um significado diferente daquele que estamos habituados a perceber deste termo. Para já há que distingui-la, tanto da verosimilhança que guarda, ainda que insuficientemente uma marca da verdade, como do fenómeno que é objecto da intuição e, por conseguinte, apresenta um conteúdo material, dado numa experiência espácio - temporalmente localizada e categoricamente determinada, ao longo de um processo que envolve uma dupla síntese: ao nível da sensibilidade e ao nível do entendimento.
Em contraste com estas duas noções, que, de algum modo, lhe estão aparentadas - que mais não seja, em virtude de um núcleo comum de experiência originária de que os três vocábulos participam - a "aparência transcendental" diz respeito, fundamentalmente, a todo um uso da razão que transcende os limites da experiência possível, a ponto de tomar a necessidade subjectiva em que se encontra de ligar entre si certos conceitos por uma necessidade objectiva de determinação de coisas em si.
A dialéctica vem por conseguinte a ocupar-se do estudo das funções da razão pura no seu uso meta - empírico, isto é, numa aplicação que transgride as regras fundamentais da possibilidade de conhecimento, as quais impõem como necessidade para que ele possa propriamente verificar-se uma experiência em que e pela qual a forma categorial receba um preenchimento concreto.
A falta de um objecto adequado para a projecção (formal) racional empiricamente intuível vem, por conseguinte a determinar a estrutural incapacidade cognoscitiva da razão pura teórica.
"Uma vez , portanto, que ela ( a lógica) apenas poderá ser reciprocamente um cânone para a apreciação do uso empírico ( do entendimento), é mal utilizada quando é tomada como o organon de um uso geral e ilimitado e se ousa julgar, afirmar e decidir sinteticamente sobre objectos em geral com o entendimento puro apenas. Deste modo, o uso do entendimento puro seria, então dialéctico."
Este uso dialéctico do entendimento puro seria, por conseguinte, ilegítimo, na medida em que se lhe pretenderiam atribuir virtualidades cognoscitivas meta - empíricas ou transcendentes. Ao constituir-se como cânone, a lógica não pode prescindir dos conteúdos concretos a que se aplica e que enforma. O conceito não pode passar sem a intuição, sob pena de permanecer no elemento da mera vacuidade.
No entanto, ao nível da razão, este intento de transcendência dos seus limites cognoscitivos estruturais aparece, para Kant, como algo de radicalmente estabelecido, difícil mesmo de ser aniquilado ou irradicado. Não há verdadeiramente um conhecimento do objecto de uma ideia transcendental e, no entanto, sempre segundo Kant, nós somos conduzidos até às ideias transcendentais por meio de raciocínios necessários que aspiram a formas cada vez mais amplas de verificação sintética, de totalização.
Vem assim, a abrir-se aqui, por um lado todo o tema do uso regulador da razão pura teórica e, por outro lado, o da inviabilidade de uma dialéctica da razão pura. A procura do incondicionado inscreve-se como exigência reitora do uso da razão na sua demanda de unificação suprema. A cada nova tentativa, porém, a impossibilidade humana de conhecer a coisa em si ou a totalidade absoluta se revela como um limite criticamente intransponível.
"A razão pura tem sempre a sua dialéctica, seja ela considerada no seu uso especulativo como no prático; pois ela requer a totalidade absoluta das condições para um dado condicionado e essa ( totalidade), muito simplesmente, só pode ser encontrada nas coisas em si."
É pois neste contexto que a dialéctica transcendental se vê obrigada a desempenhar a sua função crítica, ao detectar as ilusões em que os juízos transcendentais nos lançam e ao procurar evitar que caiamos nos seus enganos.
Vemos, deste modo, que, para Kant, a dialéctica tanto pode qualificar um determinado uso meta - empírico do entendimento puro ou da razão pura, como representar a actividade crítica que visa estudar esse emprego cognoscitivamente ilegítimo e controlar os seus efeitos.
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