A PERSONOLOGIA DE MURRAY
A Teoria da Personalidade de Henry Alexander Murray assenta numa teoria chamada de personologia que, conforme o nome indica, quer dizer conhecimento da personalidade. Esta, por sua vez, parte de alguns postulados e nomeadamente daquele que nos diz que os comportamentos humanos estão relacionados uns com os outros de uma forma temporal através de seriações que desembocam na tentativa ( pelo menos ) da satisfação de dadas necessidades.
Logo, a personologia de Murray é de índole utilitarista, ou seja, finalista, ou seja ainda " a personalidade é, de alguma forma, um meio para atingir a satisfação das necessidades ( de dadas necessidades )" (sic.).
Certos ou errados, no plano epistemológico, os pressupostos de Murray serão sempre discutíveis e questão em aberto na medida em que, ao subordinar a personalidade ( ou a sua constituição / formação ) à satisfação de necessidades coloca estas como ponto teórico fulcral.
Sem necessidades a satisfazer não há personalidade o que, mesmo levando-nos ao absurdo de pensarmos que possa existir um mundo sem necessidades ( e existe em certas patologias e muito nomeadamente na psicopatologia ) que, nesse caso, não existe personalidade porque não existem necessidades a satisfazer ( entendendo que a necessidade a satisfazer necessita de uma base consciente ).
Ora, mesmo estando longe ( neste específico campo científico ) dos pressupostos cívico / legais dos direitos e liberdades do homem, teremos de reconhecer, pelo menos, a sua inaplicabilidade Universal também pela análise comum mesmo que entendamos a existência em Murray das necessidades viscerogénicas, ou seja, as chamadas necessidades orgânicas ou primárias ( em número de doze ).
Assim, e logo que , para efeitos de análise e avaliação da personalidade, Murray se sirva de dados obtidos pelo método chamado de clínico ( ou empírico / clínico ) tal como os dados biográficos, a observação em campo e as entrevistas, e os testes, e que para formulação dos questionários se torne necessária a existência de necessidades ( e a consciência delas, ou, pelo menos, o conhecimento delas ), este enunciado anterior afasta desde logo da possibilidade de estudo da personalidade em termos igualitários, ou seja, com o mesmo valor de pesquisa, uma fatia não desprezável de indivíduos.
Posto isto interessa verificar que é através da análise do desenvolvimento da infância, das experiências e recordações mais significativas, da história escolar do indivíduo, das suas relações familiares e escolares, do desenvolvimento sexual, das capacidades e interesses é que é possível estabelecer relações lógico / temporais como vimos atrás e estudar, caracterizando, a personalidade.
Para Murray a unidade básica de análise é uma interacção entre duas ou mais entidades interdependentes ocorrendo no tempo e donde resulte alguma mudança, ou seja, é uma concepção fenomenológica, expressiva, demonstrativa e diacrónica.
Embora se possa reconhecer facilmente que aquilo que se não demonstra não existe para o outro ( ou para os outros ) será também de entender que existe aqui mais um handicap na personologia de Murray.
O encadeamento fenomenológico embora pressuponha não descreve o encadeamento substancial, ou seja, o encadeamento de factores latentes que despoletam o indício ou o facto personológico.
Um evento é denominado por Murray de procedimento; a pessoa faz algo para o objecto ou o objecto faz algo para ela, o que o aproxima excessivamente dos conceitos ontológicos, afastando-o, consequentemente, dos conceitos psico - epistemológicos.
E é neste campo que se verifica o facto personológico e se a sequência de eventos por algum motivo é interrompida, inicia-se um outro procedimento.
Não vamos aqui discutir se a interrupção de um procedimento não será a entrada em estado de latência da substância procedimental nem sequer se o procedimento que alegadamente se inicia está ou não relacionado substancialmente com aquele que alegadamente findou.
Vamos sim entrar directamente no plano mais subjectivo do pensamento de Murray que é o da organização procedimental, ou seja,
a seriação, que é uma sucessão intermitente de procedimentos direccionalmente organizados em vista de um fim determinado ou objectivo,
a ordenação, que é processo de planeamento abstracto em relação ao objectivo, e
a prospecção, que é, de alguma forma uma antevisão da adaptação ou não da seriação e da ordenação direccionada para o objectivo determinado.
Segundo Murray, ainda, os procedimentos são constitucionalmente denominados de constructos e dividem-se, neste autor, em quatro campos principais:
Necessidade, Pressão, Tema e Vector e Valor.
O CONSTRUCTO NECESSIDADE:
Definição: A necessidade é uma força que pode ter origem no interior ou no exterior da pessoa.
Esta força orienta e organiza os mais diversos processos psicológicos, a memória, o pensamento, etc. É organizadora do modo como as pessoas percebem, sentem e se comportam.
O CONSTRUCTO PRESSÃO:
Definição: A pressão, enquanto constructo, está relacionada com a necessidade, ou melhor, verifica-se no mesmo campo onde aquela tem lugar e determina-a determinando-se a si mesma, quer dizer que a pressão se verifica sobre a necessidade, no sentido positivo ou no sentido negativo facilitando ou dificultando a satisfação de dada ou dadas necessidades.
O CONSTRUCTO TEMA:
Definição: O tema é uma unidade de comportamento composta por uma necessidade e uma pressão.
É assim, complementar de ambas, ou seja, funciona como unidade constructual composta.
O CONSTRUCTO VECTORES E VALORES:
Definição: Este constructo divide-se em dois direccionamentos podendo qualquer um deles estar relacionado entre si e sempre sob dominância da satisfação de necessidades.
Os vectores indiciam já um juízo de valor ( rejeição, doação, agressão e esquiva são exemplos ) e são essencialmente formas de comportamento em relação a alguma coisa e os valores são algo sobre o qual se age ( propriedade, conhecimento, beleza ideologia são exemplos ) e indiciam o objecto do comportamento dado que necessariamente está já composto de uma componente definida como vectorial, ou seja, tem já um valor atribuído.
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