EXPLICATUDO

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ORIGENS DA EPISTEMOLOGIA

ORIGENS DA EPISTEMOLOGIA


Jonathan Dancy propõe-nos no seu livro Epistemologia Contemporânea  fornecer uma introdução aos tópicos principais correntemente discutidos sob a designação bastante vaga ( sic ) de " epistemologia" ou teoria do conhecimento científico.


Ora, segundo o mesmo autor, a epistemologia é o estudo do conhecimento e a justificação da crença, definição esta à qual não será estranha a própria definição da ideia da Física dada por Einstein e Infeld na " Evolução das Ideias em Física " da qual extraímos alguns passos : " Desejamos que os factos observados sigam logicamente o nosso conceito de realidade. Sem a crença de que é possível apreender a realidade com as nossas construções teóricas, sem a crença na harmonia interna do nosso mundo, não poderia haver Ciência. Esta crença é, e permanecerá sempre, o motivo fundamental de toda a criação científica."


Ora, crença, como se entende, não tem nada de religioso ( ou talvez tenha no sentido não comum ) mas é antes o " belief" , " o acreditar que" . Segundo Johannes Hensen, não se pode falar de uma teoria do conhecimento, ( entende-se que filosófica ) no sentido de uma disciplina filosófica independente, nem na Antiguidade nem na Idade Média.


Haveria sim, e voltamos a citar, na filosofia antiga numerosas reflexões epistemológicas esparsas, especialmente em Platão e Aristóteles . Mas as investigações epistemológicas estão ( nos gregos ) ainda englobadas em textos metafísicos e psicológicos, refere o mesmo autor.


Deve considerar-se como sendo o fundador da epistemologia o filósofo John Locke e a sua obra fundamental " Ensaio sobre o Entendimento Humano ", aparecida em 1690, e que trata de forma sistemática as questões da origem, essência e certeza do conhecimento humano.


Leibnitz tentou na sua obra " Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano " editada como póstuma em 1765, uma refutação do ponto de vista epistemológico defendido por Locke. Sobre os resultados por este obtidos edificaram novas construções em Inglaterra George Berkeley, na sua obra " Tratado dos princípios do conhecimento humano " em 1710, e David Hume, na sua obra fundamental " tratado da Natureza Humana ", em 1739/40 e na sua obra mais resumida " Investigação sobre o entendimento humano" em 1748.


Mas, o verdadeiro fundador da teoria do conhecimento dentro da filosofia continental apresenta-se como sendo Emannuel Kant, que, na sua obra capital, a " Crítica da Razão Pura " ( 1781 ) trata de dar uma fundamentação crítica do conhecimento científico da natureza.


Kant não investiga a origem psicológica mas sim a validade lógica do conhecimento. Não pergunta, como o método psicológico, de que maneira surge o conhecimento, mas sim como é possível o conhecimento, sobre que bases, sobre que pressupostos supremos assenta. Devido a este método a filosofia de Kant chama-se também, abreviadamente, de transcendentalismo ou criticismo.


No sucessor imediato de Kant, Fitchte, a teoria do conhecimento aparece pela primeira vez com o título de " teoria da ciência ". Mas já nele se manifesta essa confusão entre a teoria do conhecimento e a metafísica, que se acentua francamente em Schelling e Hegel e que também se encontra de forma evidente em Schoppenhauer e Hartmann.


Em oposição a esta forma de tratar a teoria do conhecimento, o neokantismo que surgiu por volta dos anos 70 do Sec. XIX esforçou-se por traçar uma nítida separação entre os problemas epistemológicos e metafísicos. Porém, tanto procurou colocar os problemas epistemológicos em primeiro lugar que a filosofia correu o risco de reduzir-se à teoria do conhecimento.


Além disso o neokantismo desenvolveu a teoria do conhecimento numa direcção bem determinada. O exclusivismo por ele provocado depressa fez surgir várias correntes epistemológicas contrárias. É assim que hoje nos encontramos perante uma multidão de direcções epistemológicas.


Ora, e relacionados que estamos com a psicologia, a direcção epistemológica que nos interessará desde logo será aquela que nos diz primeiro como surge o conhecimento e como o mesmo se constitui enquanto tal.


1-A Epistemologia Contemporânea


Segundo Jean Piaget o grande defeito das epistemologias tradicionais foi o facto de considerarem o conhecimento como um facto e não como um processo, e que, por via disso, terem considerado que o que está sabido está sabido e que tal pode ser estudado estaticamente. Tais concepções prolongaram-se na filosofia de Platão e Aristóteles, de Descartes a Leibnitz e encontram-se ainda nos quadros apriorísticos de Kant e mesmo na dialéctica de Hegel.


Acrescente-se que o próprio pensamento científico ele mesmo julgou durante muito tempo alcançar um conjunto de verdades definitivas, embora incompletas, conforme se refere noutro local deste trabalho. Ou seja, para o pensamento científico, a base e o cúmulo do pensamento epistemológico, igualmente o que estava sabido estava sabido e havia apenas que completá-lo complementando-o. Tratava-se de dar continuidade aos quadros teóricos estabelecidos.


Nunca se pôs, até ao Sec. XVII e seguintes a possibilidade de critica ás bases fundamentais da ciência fazendo destas bases verdadeiros postulados metafísicos. Mesmo a então recente ciência da psicologia, ainda que não pudesse gabar-se de um saber bem sólido, não hesitou em atribuir aos sujeitos pensantes que estudava uma lógica natural imutável como queria Comte no seu Positivismo, ou atribuiu-lhe instrumentos invariantes de raciocínio.


Ora, tal estaticismo foi posto em causa dada a convergência de factores diversos, alguns deles referidos neste trabalho, e considera-se hoje, cada vez mais, o conhecimento como um processo e não como um estado. A razão disso vem, em parte, da epistemologia dos filósofos das ciências: o probabilismo de Cournot e os seus estudos comparativos dos diversos tipos de noções anunciam já esta revisão; os trabalhos histórico – críticos, aclarando as oposições entre os diversos tipos científicos de pensamento favorecem notavelmente esta evolução, e a obra de L. Brunschicg, por exemplo, marca uma viragem importante na direcção de uma doutrina do conhecimento em devir ( em mudança, em movimento ).


Entre os neokantianos encontram-se em Natorp declarações deste género : a proceder como Kant, parte-se da existência de facto da ciência e procura-se o seu fundamento. Mas qual é, na verdade, esse facto ( a existência da ciência ) quando a ciência, como se sabe, evolui constantemente ?


É bem conhecido, por outro lado, o livro de Th. S. Kuhn sobre as revoluções científicas. Esta transformação fundamental do conhecimento / estado em conhecimento / processo leva a pôr em termos bastante novos a questão das relações entre a epistemologia e o desenvolvimento ou mesmo a formação psicológica das noções e das operações no entender de J. Piaget.


Com efeito, se todo o conhecimento está sempre em devir e consiste em passar de um conhecimento menor para um estádio mais completo e mais eficaz é claro que se trata de conhecer não o conhecimento em si como estado mas sim o conhecimento em devir ( em processo dinâmico ) e analisá-lo o mais exactamente possível, detectando-lhe as suas leis ( ou constantes de movimento ).

2-Classificação da Epistemologia


Conforme temos vindo a ver não existe, em rigor, uma só epistemologia ou uma só concepção que nos permita classificar a epistemologia como facto estático. Para além do mais têm-se desenvolvido diversas correntes epistemológicas, apontando em direcções diferentes ( ainda que com objectivos comuns ) na tentativa de estabelecer conceitos comuns sobre a ideia de epistemologia que mais possa convir à ciência.


A tendência actual aponta para uma unificação de conceitos através da aceitação de uma linguagem comum ( a logística ou lógica ) que funcione como fundamento de entendimento e simultaneamente como elemento enquadrador metodológico.


A Epistemologia, à semelhança do que acontece com a Psicologia e as outras Ciências dissocia-se progressivamente, na parte final das suas origens, da filosofia, rejeitando as concepções metafísicas e enquadrando-se como uma ciência de leis, ou seja, de princípios gerais e comuns aos quais se pretenderá atribuir uma lógica de comportamento aberto mas tão constante quanto aquilo que a própria evolução das ciências que teoriza o permitir.



21/12/2007
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