A Epistemologia Contemporânea
A Epistemologia Contemporânea
Segundo Jean Piaget o grande defeito das epistemologias tradicionais foi o facto de considerarem o conhecimento como um facto e não como um processo, e que, por via disso, terem considerado que o que está sabido está sabido e que tal pode ser estudado estaticamente. Tais concepções prolongaram-se na filosofia de Platão e Aristóteles, de Descartes a Leibnitz e encontram-se ainda nos quadros apriorísticos de Kant e mesmo na dialéctica de Hegel.
Acrescente-se que o próprio pensamento científico ele mesmo julgou durante muito tempo alcançar um conjunto de verdades definitivas, embora incompletas, conforme se refere noutro local deste trabalho. Ou seja, para o pensamento científico, a base e o cúmulo do pensamento epistemológico, igualmente o que estava sabido estava sabido e havia apenas que completá-lo complementando-o. Tratava-se de dar continuidade aos quadros teóricos estabelecidos.
Nunca se pôs, até ao Sec. XVII e seguintes a possibilidade de critica ás bases fundamentais da ciência fazendo destas bases verdadeiros postulados metafísicos. Mesmo a então recente ciência da psicologia, ainda que não pudesse gabar-se de um saber bem sólido, não hesitou em atribuir aos sujeitos pensantes que estudava uma lógica natural imutável como queria Comte no seu Positivismo, ou atribuiu-lhe instrumentos invariantes de raciocínio.
Ora, tal estaticismo foi posto em causa dada a convergência de factores diversos, alguns deles referidos neste trabalho, e considera-se hoje, cada vez mais, o conhecimento como um processo e não como um estado. A razão disso vem, em parte, da epistemologia dos filósofos das ciências: o probabilismo de Cournot e os seus estudos comparativos dos diversos tipos de noções anunciam já esta revisão; os trabalhos histórico – críticos, aclarando as oposições entre os diversos tipos científicos de pensamento favorecem notavelmente esta evolução, e a obra de L. Brunschicg, por exemplo, marca uma viragem importante na direcção de uma doutrina do conhecimento em devir ( em mudança, em movimento ).
Entre os neokantianos encontram-se em Natorp declarações deste género : a proceder como Kant, parte-se da existência de facto da ciência e procura-se o seu fundamento. Mas qual é, na verdade, esse facto ( a existência da ciência ) quando a ciência, como se sabe, evolui constantemente ?
É bem conhecido, por outro lado, o livro de Th. S. Kuhn sobre as revoluções científicas. Esta transformação fundamental do conhecimento / estado em conhecimento / processo leva a pôr em termos bastante novos a questão das relações entre a epistemologia e o desenvolvimento ou mesmo a formação psicológica das noções e das operações no entender de J. Piaget.
Com efeito, se todo o conhecimento está sempre em devir e consiste em passar de um conhecimento menor para um estádio mais completo e mais eficaz é claro que se trata de conhecer não o conhecimento em si como estado mas sim o conhecimento em devir ( em processo dinâmico ) e analisá-lo o mais exactamente possível, detectando-lhe as suas leis ( ou constantes de movimento ).
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