O ENVELHECIMENTO HUMANO
Entende-se, neste trabalho, como envelhecimento humano aquele que abrange o processo complexo do envelhecimento do ser humano nas suas diversas vertentes físicas e metafísicas. A utilização do termo metafísica, neste campo, pretende ser sobretudo um termo abrangente que, na linha do enquadramento dado por Apolónio de Rodes à obra metafísica de Aristóteles ( aquela obra que está depois da obra sobre física ) , resume este termo á significação basilar e primeira de que o metafísico está para além - noutro campo - do físico.
Nestes termos, as contextualizações metafísicas dos processos de envelhecimento que iremos descrever, ao lado das contextualizações de ordem física, e interpenetrando-se umas e outras entre si muitas vezes, resumem-se ao facto de se colocarem para além do imediato físico / científico sem que deixem de se colocar num plano científico não apriorístico onde os fenómenos da psique ( individual e colectiva ) estão mais presentes.
Ultrapassa-se assim - através da metodologia que neste processo se enquadra - qualitativa e quantitativamente, o estudo físico / científico, expurgando-o do empirismo / experimentalista primário e procurando-se uma visão ampla e heterogénea dos processos de envelhecimento em estudo, sem que a um se atribua a priori maior mérito ou valor que a outro. Faz-se, sim, uma descrição abrangente das teorias que se debruçam sobre os processos de envelhecimento.
Conforme reconheceremos ao longo do trabalho os fenómenos do envelhecimento são susceptíveis de várias abordagens que se não compadecem com fechamentos estreitos em campos estreitos.
No que se refere a definições, fala-se correntemente do envelhecimento do ser humano como de um estado que qualificamos como " terceira idade " ou mesmo como " quarta idade ". Não obstante , o envelhecimento humano não é um estado, mas sim um processo, com uma dinâmica própria, relacionada quer com a biofisiologia quer com a psicologia quer mesmo com a sociologia, entre outras disciplinas ( e todas elas podem aqui ser chamadas ) , quer com factores endógenos ( interiores aos processos sistemáticos de vida ) quer com factores exógenos ( exteriores a estes ) que, interligando-se muitas vezes ( ou quase todas ) agem conjuntamente num sistema processual cuja dinâmica por vezes surpreende toda a perspectivação científica.
Ora, ao tentarmos neste trabalho abordar esta questão das teorias do envelhecimento, e sua consequência lógica, a morte, tendo presente aquilo que é a disciplina específica sobre a qual estamos a trabalhar ( a teoria do conhecimento científico ), não podemos também deixar de referir que a nossa actual teoria e prática profissional ( a medicina ) em muito influiu num plano subalterno para o enquadramento epistemológico da questão em estudo.
Por outro lado, falar sobre envelhecimento é, quase de imediato, relacionar um processo que se considera degenerativo com o tempo ou através do decorrer do tempo. A importância deste factor, o tempo, é uma constante que, nos processos de envelhecimento pode revestir-se de significações paradoxais.
Assim , e a ter como certa as teorias da evolução, parece claro que o homem, tal como o conhecemos hoje, resulta de um processo prolongado no tempo, um processo de envelhecimento histórico da vida, que começa em termos palpáveis cerca de 600 a 700 milhões de anos atrás, altura de que se encontram os primeiros vestígios de vida na terra, através da descoberta de animais de carapaças calcárias, volumosas e consistentes e que por esses factos mesmos é que chegam até nós bem conservadas, incrustadas em rochas ( cuja idade se define dentro dos parâmetros referidos ).
Ora este facto faz pressupor a existência de vida na terra em períodos muito anteriores ao período câmbrico ( 500 a 600 milhões de anos ) incluído na Era Primária ou Paleozóica, que vai dos 600 milhões anos até aos 250 milhões de anos, dado que não é logicamente de supor que as primeiras formas de vida tenham sido formas viventes com a forte consistência estrutural daquelas que foram conservadas pelo tempo e encontradas pelos geólogos / arqueólogos .
Ora - e é este um dos paradoxos - se se admite facilmente que a evolução prolongada no tempo ( os referidos 600 a 700 milhões de anos ou mais ) produziu o ser superior ( na comparação com os outros ) que é o homem, através de um processo de adaptação e transformações consecutivas partidas de outras espécies de vida, já se não admite que o processo de envelhecimento do homem, enquanto ser bio - psico - social, seja uma evolução favorável do processo de vida.
Por outras palavras, 700 milhões de anos são um processo de desenvolvimento no sistema global do processo da vida na terra e de alguma forma uma entrada na idade madura dos processos de vida e 70 anos são um processo de regressão no sistema particular de um dos elementos constitutivos do processo de vida global na terra que é, neste caso, o homem.
Mesmo que logicamente se possa aceitar este último facto como sendo uma forma de progresso da humanidade e dos sistemas de vida no seu todo é contudo simultaneamente o processo de degenerescência de cada ser humano em particular e é esse que preocupa os homens quase desde sempre.
Assim, coloca-se uma questão de atitude do homem perante este duplo problema: de um lado recebe com agrado o processo de tempo que o cria tal como é que o vai recriando ( logicamente ) , por outro lado recusa ( ou aceita dificilmente ) o processo de tempo que o faz envelhecer e perecer enquanto ser individual.
Ainda, e cabendo nesta introdução, desligar o problema do envelhecimento, sem lhe anexar a circunstância lógica que ele subentende, a morte, nos seus aspectos bio – sócio – antropológicos e mesmo filosóficos, seria, a nosso ver, cortar da discussão que aqui se trás uma das componentes basilares de todo o processo, que embora aja externamente ao processo próprio do envelhecimento como processo degenerativo biofisiológico, contém em si uma carga psico – social e cultural que não pode ser alheada de uma discussão justa do processo global.
Por outro lado aponta-se neste trabalho que o facto de alguma dinâmica sistemática se encontrar equilibrada, num processo constante de input – output, o que em saúde se define normalmente como processo homeostático, e que vem sendo defendido desde Hipócrates, ainda que com o primarismo que lhe reconhece a ciência médica de hoje, não é suficiente como perspectiva de análise, se a entendermos num contexto que se aproxime da ideia de estaticismo.
Será suficiente, isso sim, estudar essas correntes de entrada / saída e reforçar os seus pólos consoante as necessidades do sistema e as possibilidades do mesmo, detectar os seus pontos críticos, entregar ao equilíbrio tendencial próprio o desequilíbrio que ele mesmo pode debelar, não apadrinhando em demasia o sistema de forma a que o mesmo se autogoverne a si mesmo naquilo que lhe é possível.
Tal concepção implica o estabelecimento de escalas homeoestáticas, de controlo por níveis, e não uma ideia em que a inevitabilidade global do processo de envelhecimento se venha a repercutir sistematicamente nos sub – processos singulares da degenerescência. É esta uma ideia que se torna cada vez mais necessária numa sociedade em que é demasiado fácil catalogar sumária e definitivamente as incapacidades dos outros.
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