PLATAO E A MAIEUTICA
Como se sabe, e nunca é de mais repetir, Platão acreditava que o conhecimento existia já em nós e que só tínhamos o trabalho de o despertar. Para o efeito houve até uma experiência em que uma pessoa totalmente ignorante num determinado assunto se tornou expert graças a lições (de recordação) aceleradas.
A tese, refere a Anamnésis, segundo a qual todo o conhecimento digno desse nome é recuperado do nosso próprio espírito. Assim, não é necessário qualquer "ensinamento", no sentido habitual da palavra: as artes de parteiro de Sócrates (maiêutica) farão nascer os pensamentos latentes, e o seu elenco eliminará os que forem falsos.
O conhecimento de que depende a verdadeira virtude filosófica será adquirido por este processo; mas não pode ser "ensinado" no sentido vulgar. O ensino e a aprendizagem vulgares significam a "transmissão" de informações de uma pessoa a outra e neste caso trata-se de despoletar o conhecimento existente numa pessoa ela mesma.
O interessante nesta recolha feita é que a determinado passo temos a sugestão de que os políticos relativamente bons são guiados não pelo conhecimento ou pela sabedoria mas por uma espécie de inspiração semelhante à do vidente e do poeta, que "no seu êxtase dizem muitas coisas verdadeiras mas não sabem o que querem dizer. Não têm inteligência mas estão possuídos de inspiração divina."
Esta última parte é verdadeiramente ofensiva no seu princípio para os políticos e para os religiosos na segunda parte mas a autoria não é minha e advém deste cérebro antigo referido.
Reconhece-se há muito que a ligação intima entre a Anamnésis (de Platão), a doutrina da reencarnação e as ciências matemáticas sugere uma origem pitagórica. Onde existe a crença na reencarnação pensa-se que a alma terá esquecido as suas vidas anteriores e as suas experiências no outro mundo, tal como as almas no mito de Er bebem a água do Rio do Esquecimento antes de voltarem a nascer.
Simplesmente, umas almas bebem mais água do que outras, o que quer dizer que os espíritos menos esquecidos conseguem recuperar durante esta vida uma parte do conhecimento esquecido. Na crença popular, por exemplo na Birmânia dos nossos dias, o Budista consegue frequentemente recordar o suficiente da sua vida anterior para identificar a pessoa morta cuja alma encarnou no seu próprio corpo.
A crença sob esta forma aparece na lenda de Pitágoras.
Empédocles descreve-o como "um homem dotado de um conhecimento extraordinário, que tinha conquistado as maiores riquezas e sabedoria e que era exímio em toda a espécie de coisas; pois sempre que o seu espírito se concentrava com facilidade via tudo quanto existe nas vidas de dez ou mesmo vinte homens". É possível que estas últimas palavras se refiram à tradição de que Pitágoras, tal como o Budista, era capaz de se lembrar das suas encarnações anteriores.
Mas, considerado no seu conjunto, o passo sugere ainda mais - não apenas a recordação de experiências vividas neste mundo mas "a maior riqueza de sabedoria", a visão de "tudo quanto existe", alcançada num estado de exaltação em que as potencialidades do espírito são exercitadas ao máximo. E voltamos aqui ao carácter místico religioso referido atrás sobre os políticos.
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