EXPLICATUDO

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POESIA, ARTE, CRIAÇÃO

POESIA, ARTE, CRIAÇÃO

(...) Para Demócrito o génio poético, a adivinhação intuitiva, a previsão de acontecimentos futuros que se realiza em sonhos, a comunicação do místico com o divino e certas afecções nervosas e mentais devem-se a um temperamento anormal, particularmente ardente e emotivo, no qual os átomos psíquicos estão constantemente animados de um movimento vivo.

Um temperamento assim torna possível aos homens entrarem em comunicação com outros seres possuidores de um carácter igualmente fogoso e animado, particularmente com esses grandes espectros a que vulgarmente se dá o nome de deuses e daimons, e receberem deles efluências causadoras de impressões violentas.

O facto de receberem estes espectros carregados de ideias, de emoções e de impulsos confere a esses homens, durante um certo tempo e num certo grau, o carácter dos seres de onde emanam; e é numa crise de exaltação sobre-humana, semelhante à loucura, que as obras de arte são criadas e que a verdade misteriosa é revelada na comunhão com o divino.

Mas, se (Demócrito) reduziu os deuses e os daimons à categoria de seres naturais a até materiais, manteve-lhes por outro lado os poderes sobre-humanos e a intervenção nos assuntos humanos, assegurando assim ao factor religioso um papel considerável na explicação dos fenómenos popularmente considerados sobrenaturais.

A afirmação mais curiosa a este respeito é a que nos diz que, segundo Demócrito, os animais irracionais, os sábios e os deuses têm um sentido extra, além dos cinco sentidos. Nos animais irracionais este sentido extra é sem dúvida parte daquilo a que nós chamamos instinto. "Os sábios", no grego do Sec.V, seriam também os poetas e os videntes e não só os sábios e os filósofos.

Assim, esta afirmação relacionar-se-ia com a inspiração do poeta e do vidente, com aquela intuição filosófica a que Demócrito chamou "sabedoria autêntica". Esta faculdade entra em acção quando o conhecimento bastardo dos cinco sentidos falha; e é ela que revela o grande princípio da constituição do mundo, os átomos e o vácuo.

Demócrito ansiava por encontrar espectros favoráveis dos deuses, os quais podiam afectar os homens para o bem ou para o mal e revelar o futuro em sonhos. Daí o facto de os seus discípulos o poderem comparar a um profeta, chamando-lhe a Voz de Zeus; e de a tradição o representar como um asceta contemplativo, fugindo à sociedade e dado a ataques de loucura.

Epicuro escondeu ou negou o que devia a Demócrito; mas podemos reconhecer aqui a sua forma mais antiga e mais vívida a "projecção do espírito" que foge do corpo para viajar pelas regiões do invisível.

 



03/12/2007
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